A natureza do pecado
[Índice]
O pecado é um fato patente – sua realidade não precisa de argumento. É um fato de experiência, de observação e de revelação. É algo que sinto em meu próprio coração, algo que vejo nos outros, até mesmo em meus melhores amigos e entes queridos. É algo que se encontra revelado na Bíblia. O policial o persegue, o médico o receita, a lei o descobre, a consciência o condena, Deus o controla e castiga. Mesmo assim, ninguém o quer ter para si. Mas, a realidade nua e crua, é que pecado é tudo o que a gente tem. O homem é o mordomo de tudo o que possui. Embora o pecado seja óbvio, há uma tendência de tratá-lo como algumas pessoas tratam os parentes que não prestam: ou é ignorado ou até mesmo negado.
Pode-se definir o que é pecado, mas não se pode explicá-lo. O modo que começou no universo é um profundo mistério. Ele não existia na criação, pois Deus a qualificou de “boa”. O pecado é um parasita, um intrometido, uma monstruosidade terrível. Ele apareceu na terra num jardim de delícias, após ter contaminado o céu, e transformou esta terra bonita num deserto de miséria. Lemos que na criação só havia céu e terra, mas depois vemos que o fogo eterno foi preparado para o diabo e seus anjos.
O pecado engana, rouba e destrói. Ele promete prazer, mas o pagamento é a dor. Promete vida, mas dá morte. Promete lucros, mas dá pobreza – a perda de tudo o que é bom. Cada pecado cometido visa um lucro. Ninguém pecaria se não visse lucro de uma forma ou de outra. Há lucro no pecado, mas é por tão pouco tempo! Moisés deu uma olhada e fez uma decisão sábia. Preferiu sofrer aflições com o povo de Deus, do que aproveitar os prazeres do pecado, por um tempo. Considerou “o vitupério de Cristo” (Hebreus 11:26) uma riqueza maior do que todos os tesouros do Egito. Fez sua escolha tendo em vista o dia do juízo.
O pecado é perigoso, e isto vai além do que se possa expressar e descrever. Ele transgride a lei moral de Deus e esta lei transgredida clama por retribuição justa. O pecado é contra Deus, o Juiz de toda a terra, e tem que ser julgado diante de Deus. O crime é contra a sociedade humana. Ela pode e castiga o pecado. A sociedade humana talvez deixe de punir o criminoso, mas Deus nunca deixará de punir o pecador que não tem Jesus como Salvador. Todo crime contra os homens é pecado contra Deus, mas nem todo pecado contra Deus, é crime contra os homens. A sociedade humana castiga os homens pelo que fazem; Deus os castiga pelo que são e de acordo com o que fazem. Cada pecador ou será castigado em sua própria pessoa ou na pessoa de um Substituto e Fiador, o qual é o Senhor Jesus Cristo, o Fiador de uma aliança melhor. O único modo possível pelo qual qualquer pecador pode receber o favor de Deus, como o doador da lei, era que Cristo, o Justo, sofresse pelo injusto. 1 Pedro 3:18.
DEFINIÇÕES FALSAS DO QUE É PECADO
1. Modernismo. John Fiske (1842-1901) diz que o pecado original não é nada mais, nada menos do que a herança carnal (física) que cada homem leva consigo e que o processo da evolução é um avanço na direção da salvação verdadeira. De acordo com esta opinião, a raça humana está a caminho da salvação; não há esperança para o indivíduo, a raça humana será salva, quando o processo da evolução se tornar perfeito. É como tentar domesticar um animal selvagem. De acordo com esta opinião não há responsabilidade individual e, sendo assim, nenhuma salvação individual. Que esperança vai se dar a quem clama: “Que é necessário que eu faça para me salvar”? É a “guerra fria” e guerras de verdade em vários lugares, com as conseqüências terríveis à felicidade e segurança, que mostram que o processo evolucionário de salvação é uma mentira.
2. Ciência Cristã. (Mary Baker Eddy). “O pecado é uma ficção de uma imaginação pervertida” – “Uma criação imaginária de mentes anormais”. Em outras palavras, o pecado não existe; não é real. Há quem pense que peca e isto é uma doença da mente. O homem convicto de seu pecado é um desequilibrado mental e aquele que se entristece por seu pecado e busca o perdão de Deus está completamente insano. Tal tolice é refutada pela ciência, pelas Escrituras e pelo senso comum. Quando o pródigo caiu em si, disse: “Pequei”. Insano é quem nega o fato do pecado. “Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e sua palavra não está em nós”. 1 João 1:10.
3. A Opinião Popular vê o pecado como apenas um crime contra a sociedade. Os pecadores são somente os que incorrem nas extravagâncias da mocidade: os viciados, as prostitutas, os criminosos e os bandidos. Há mais ou menos setenta anos, os japoneses se ressentiram com a pregação de Paul Kanamoro. Reclamaram de que Paulo falava com eles como se fosse um promotor falando a réus. Confundiram pecado com vício. Não puderam fazer distinção entre pecado e crime. Cada pessoa é um pecador nato, mas nem todos são viciados ou criminosos. Há muitas mulheres virtuosas, mas não sem pecado. Há muitos homens obedientes à lei, mas não sem pecado. Há bebês lindos em toda parte, mas não bebês sem uma natureza pecaminosa. (Salmo 51:5; 58:3; Efésios 2:1-3).
ALGUMAS DEFINIÇÔES VERDADEIRAS DO QUE É PECADO
1. A Confissão de Westminster:
“Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus ou qualquer transgressão desta lei”. Esta é uma boa definição e inclui tanto os pecados de comissão quanto os de omissão. A lei moral de Deus – o padrão eterno do que é certo e errado – se resume em amar, de modo supremo a Deus e ao nosso próximo, como a nós mesmos.
2. A. H. Strong:
“Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, quer em atos, caráter ou natureza”. Esta é uma definição ainda melhor, pois reconhece o pecado como condição da natureza humana. O pecado habita no coração, é uma qualidade do ser.
3. O Apóstolo João:
“Pecado é iniqüidade” (transgressão da lei). 1 João 3:4b. Ou mais literalmente: “Pecado é fazer o que é ilegal”. Não pode haver pecado onde não há lei. Se não houver Legislador (Deus), ao Qual devemos prestar contas, então não pode haver pecado, pois pecado é fazer o que é ilegal.
NÃO ATINGIR O ALVO
Há uma palavra na Bíblia que significa “não atingir o alvo”, a qual é traduzida como pecado umas 200 vezes na Bíblia. O homem não atingiu o alvo – não atingiu o propósito da sua existência. Ele foi criado para refletir a glória do seu Criador, mas não atingiu este alvo e está “destituído da glória de Deus”. É como um relógio que não dá as horas; como um carro que não sai do lugar; como carvão que não queima. É um fracasso no maior de todos os empreendimentos – deixou de glorificar a Deus.
O HOMEM ESTÁ LONGE DO ALVO
Há outra palavra usada para descrever pecado e que significa “afastar-se do caminho reto”. Esta concepção de pecado é expressa no Salmo 78:57, onde Deus reclama que Israel se virou “como um arco enganoso”. Mais uma vez em Isaías vemos que “todos estão desgarrados como ovelhas”, “cada um se desviou pelo seu caminho”. O homem está afastado do caminho reto. Em vez de gravitar em torno de Deus, fazendo de Sua vontade o prazer principal, ele se torna uma estrela errante no firmamento moral.
COMPETIÇÃO COM DEUS
Pode-se definir pecado como competir com Deus pela soberania – competir no plano de autoridade. Este aspecto é visto na história do primeiro pecado, como podemos ler em Gênesis 3. A palavra pecado não aparece na narrativa, mas o fato do pecado, sim. Também a natureza do pecado fica claramente revelada. Satanás disse a Eva que se ela e o marido comessem do fruto proibido, seus olhos se abriram e seriam como Deus, conhecendo o bem e o mal. E quando o pecado foi consumado, Deus disse: “Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal”. Gênesis 3:22.
Como foi que o homem se tornou igual a Deus quando pecou? É claro que não tem nada a ver com caráter, porque ao pecar, o homem perdeu o caráter bom com o qual fora criado. Também não significa que adquiriu atributos divinos tais como poder, santidade ou sabedoria. Ao pecar o homem perdeu o poder de viver e morreu; perdeu sua santidade original e se tornou imundo ou depravado; perdeu a sabedoria recebida na criação original e se tornou um tolo. O pecado trouxe morte, depravação e desilusão. O pecado é tolice consumada.
O único sentido possível no qual o homem se tornou igual a Deus foi no espírito e objeto – não na realidade. Adão e Eva declararam sua independência de Deus. Agora teriam suas próprias leis e fariam o que lhes agradasse. Rebelaram-se contra a vontade de Deus para sua vida. Rejeitaram Sua vontade expressa quanto ao que poderiam ter. Determinariam (sabendo por si mesmos) o que era bom e mal – certo e errado. Não mais estariam presos à Palavra de Deus, em relação ao que podiam fazer. Seriam a própria lei e fariam o que quisessem; o que era certo a seus próprios olhos. Deste modo, entraram numa competição com Deus em relação à soberania. Em espírito e objeto se fizeram como Deus. A vontade deles mesmos seria suprema.
Cada pecado é uma competição com Deus no plano de autoridade. Se eu tiver o direito de determinar o que é certo e errado, então sou Deus – sou supremo na questão de autoridade. O pecado é, portanto, uma declaração de independência diante de Deus e isto significa guerra, pois Deus disse: “Eu sou Deus, e não há outro”. Salmo 46:9. Em outro versículo lemos: “Não terás outro deuses diante de mim”. Êxodo 20:3. Portugal não pôde fazer quase nada quando o Brasil declarou sua independência – foi uma coisa perdida. Mas, Deus pode fazer muito em relação a Suas criaturas rebeldes. O pecador entrou numa guerra, já perdida, contra seu Criador. Deus é um Deus zeloso. Ele nunca vai tolerar rivais nem competidores. Ele é a única PESSOA no universo inteiro que tem o direito e o poder de fazer o que Lhe agrada. Somente Ele tem o direito de agir para Sua própria glória. Tudo o que Deus faz, quer em misericórdia ou justiça, é para o louvor de Sua glória. A salvação é unicamente para este fim. Efésios 1:1-14.
A REALIDADE DO PECADO
O pecado é real? Pergunte a Adão e ouça-o lamentar pela perda do Éden. O pecado é real? Pergunte a Caim e o ouça clamar: “É maior a minha maldade que a que possa ser perdoada”. Gênesis 4:13. Pergunte a Abel. Ele não pode falar, mas seu sangue clama a Deus por justiça contra seu assassino. O pecado é real? Pergunte a Davi e escute-o dizer: “Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim”. Salmo 51:3. O pecado é real? Pergunte ao homem rico, no inferno, e escute o que ele diz: “Estou atormentado nesta chama”. Lucas 16:24. O pecado é real? Pergunte a Faraó e preste atenção que disse: “Pequei”, ao descobrir que em cada casa havia um primogênito morto, por toda a terra do Egito. Somente Gósen escapou, por causa do sangue do cordeiro pascal. O pecado é real? Pergunte a Pedro e escute sua confissão: “Ausenta-te de mim, que sou um homem pecador”. Lucas 5:8. O pecado é real? Pergunte aos pais crentes e ouça-os enquanto oram pelos filhos perdidos. O pecado é real? Pergunte ao Filho de Deus e ouça-O clamar, sob fardo tão terrível; “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Mateus 27:46. O pecado é real? Pergunte aos mártires e deixem que lhe digam o preço que pagaram ao resistirem até à morte.
Quanto mais santo o homem é, mais ele vê o que é pecado. A pessoa que peca menos é aquela que mais se entristece por causa do seu pecado. A. J. Gordon, o grande pregador batista de Boston, era um homem temente a Deus. Mesmo assim, pouco antes de morrer, pediu para que o deixassem sozinho. As pessoas ouviram confessar seus pecados de modo tão exagerado, que parecia estar delirando. Lutero clamou: “Oh, meus pecados, meus pecados”. Jonathan Edwards, que foi o homem mais temente a Deus, em sua época, escrevia em seu diário com tanta aversão a si mesmo, que se podia até pensar que era o pior homem do mundo.
A POTENCIALIDADE DO PECADO
O pecado, como ato de transgressão é somente uma parte pequenina do pecado. Nove décimos da massa de um iceberg ficam por baixo da água, de modo que uma parte muito pequena do total pode ser vista. E há muito mais pecado no homem do que o que aparece na superfície da transgressão real. O mal em potencial é quase igual em cada homem. A Bíblia diz que não há diferença, pois todos pecaram. Se não pecamos tanto quanto os outros exteriormente, é porque a graça de Deus nos restringe e não a algo de bom em nossa natureza. Quando nosso Senhor disse que “do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mateus 15:19), Ele não descrevia um coração em particular, mas sim o coração de cada homem. Quando Paulo disse que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” (Romanos 8:7), ele falava sobre a mente de cada ser humano.
SALVAÇÃO ATRAVÉS DE UM COOPERADOR
O pecador está competindo contra Deus. O Salvador, porém, é o cooperador de Deus. O primeiro Adão competiu com Deus em busca de soberania e destruiu a todos nós. O último Adão, Jesus Cristo, cooperou com Deus para nossa salvação. O primeiro Adão disse: “Faça-se a minha vontade”. O último Adão declarou: “Todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42). O primeiro Adão desprezou a vontade de Deus. O último Adão disse: “deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus” (Salmo 40:8). E a vontade de Deus o levou pela estrada do sofrimento; do Getsêmani sombrio ao Calvário sangrento. E foi lá que Ele exclamou: “Está consumado” (João 19:30). Todos os homens são vítimas da tragédia terrível do Jardim do Éden; todos os crentes são vitoriosos através da tragédia do Calvário. Que o autor e leitor deste livro possam se curvar em adoração, diante tal maravilha!
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O pecado é um fato patente – sua realidade não precisa de argumento. É um fato de experiência, de observação e de revelação. É algo que sinto em meu próprio coração, algo que vejo nos outros, até mesmo em meus melhores amigos e entes queridos. É algo que se encontra revelado na Bíblia. O policial o persegue, o médico o receita, a lei o descobre, a consciência o condena, Deus o controla e castiga. Mesmo assim, ninguém o quer ter para si. Mas, a realidade nua e crua, é que pecado é tudo o que a gente tem. O homem é o mordomo de tudo o que possui. Embora o pecado seja óbvio, há uma tendência de tratá-lo como algumas pessoas tratam os parentes que não prestam: ou é ignorado ou até mesmo negado.
Pode-se definir o que é pecado, mas não se pode explicá-lo. O modo que começou no universo é um profundo mistério. Ele não existia na criação, pois Deus a qualificou de “boa”. O pecado é um parasita, um intrometido, uma monstruosidade terrível. Ele apareceu na terra num jardim de delícias, após ter contaminado o céu, e transformou esta terra bonita num deserto de miséria. Lemos que na criação só havia céu e terra, mas depois vemos que o fogo eterno foi preparado para o diabo e seus anjos.
O pecado engana, rouba e destrói. Ele promete prazer, mas o pagamento é a dor. Promete vida, mas dá morte. Promete lucros, mas dá pobreza – a perda de tudo o que é bom. Cada pecado cometido visa um lucro. Ninguém pecaria se não visse lucro de uma forma ou de outra. Há lucro no pecado, mas é por tão pouco tempo! Moisés deu uma olhada e fez uma decisão sábia. Preferiu sofrer aflições com o povo de Deus, do que aproveitar os prazeres do pecado, por um tempo. Considerou “o vitupério de Cristo” (Hebreus 11:26) uma riqueza maior do que todos os tesouros do Egito. Fez sua escolha tendo em vista o dia do juízo.
O pecado é perigoso, e isto vai além do que se possa expressar e descrever. Ele transgride a lei moral de Deus e esta lei transgredida clama por retribuição justa. O pecado é contra Deus, o Juiz de toda a terra, e tem que ser julgado diante de Deus. O crime é contra a sociedade humana. Ela pode e castiga o pecado. A sociedade humana talvez deixe de punir o criminoso, mas Deus nunca deixará de punir o pecador que não tem Jesus como Salvador. Todo crime contra os homens é pecado contra Deus, mas nem todo pecado contra Deus, é crime contra os homens. A sociedade humana castiga os homens pelo que fazem; Deus os castiga pelo que são e de acordo com o que fazem. Cada pecador ou será castigado em sua própria pessoa ou na pessoa de um Substituto e Fiador, o qual é o Senhor Jesus Cristo, o Fiador de uma aliança melhor. O único modo possível pelo qual qualquer pecador pode receber o favor de Deus, como o doador da lei, era que Cristo, o Justo, sofresse pelo injusto. 1 Pedro 3:18.
DEFINIÇÕES FALSAS DO QUE É PECADO
1. Modernismo. John Fiske (1842-1901) diz que o pecado original não é nada mais, nada menos do que a herança carnal (física) que cada homem leva consigo e que o processo da evolução é um avanço na direção da salvação verdadeira. De acordo com esta opinião, a raça humana está a caminho da salvação; não há esperança para o indivíduo, a raça humana será salva, quando o processo da evolução se tornar perfeito. É como tentar domesticar um animal selvagem. De acordo com esta opinião não há responsabilidade individual e, sendo assim, nenhuma salvação individual. Que esperança vai se dar a quem clama: “Que é necessário que eu faça para me salvar”? É a “guerra fria” e guerras de verdade em vários lugares, com as conseqüências terríveis à felicidade e segurança, que mostram que o processo evolucionário de salvação é uma mentira.
2. Ciência Cristã. (Mary Baker Eddy). “O pecado é uma ficção de uma imaginação pervertida” – “Uma criação imaginária de mentes anormais”. Em outras palavras, o pecado não existe; não é real. Há quem pense que peca e isto é uma doença da mente. O homem convicto de seu pecado é um desequilibrado mental e aquele que se entristece por seu pecado e busca o perdão de Deus está completamente insano. Tal tolice é refutada pela ciência, pelas Escrituras e pelo senso comum. Quando o pródigo caiu em si, disse: “Pequei”. Insano é quem nega o fato do pecado. “Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e sua palavra não está em nós”. 1 João 1:10.
3. A Opinião Popular vê o pecado como apenas um crime contra a sociedade. Os pecadores são somente os que incorrem nas extravagâncias da mocidade: os viciados, as prostitutas, os criminosos e os bandidos. Há mais ou menos setenta anos, os japoneses se ressentiram com a pregação de Paul Kanamoro. Reclamaram de que Paulo falava com eles como se fosse um promotor falando a réus. Confundiram pecado com vício. Não puderam fazer distinção entre pecado e crime. Cada pessoa é um pecador nato, mas nem todos são viciados ou criminosos. Há muitas mulheres virtuosas, mas não sem pecado. Há muitos homens obedientes à lei, mas não sem pecado. Há bebês lindos em toda parte, mas não bebês sem uma natureza pecaminosa. (Salmo 51:5; 58:3; Efésios 2:1-3).
ALGUMAS DEFINIÇÔES VERDADEIRAS DO QUE É PECADO
1. A Confissão de Westminster:
“Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus ou qualquer transgressão desta lei”. Esta é uma boa definição e inclui tanto os pecados de comissão quanto os de omissão. A lei moral de Deus – o padrão eterno do que é certo e errado – se resume em amar, de modo supremo a Deus e ao nosso próximo, como a nós mesmos.
2. A. H. Strong:
“Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, quer em atos, caráter ou natureza”. Esta é uma definição ainda melhor, pois reconhece o pecado como condição da natureza humana. O pecado habita no coração, é uma qualidade do ser.
3. O Apóstolo João:
“Pecado é iniqüidade” (transgressão da lei). 1 João 3:4b. Ou mais literalmente: “Pecado é fazer o que é ilegal”. Não pode haver pecado onde não há lei. Se não houver Legislador (Deus), ao Qual devemos prestar contas, então não pode haver pecado, pois pecado é fazer o que é ilegal.
NÃO ATINGIR O ALVO
Há uma palavra na Bíblia que significa “não atingir o alvo”, a qual é traduzida como pecado umas 200 vezes na Bíblia. O homem não atingiu o alvo – não atingiu o propósito da sua existência. Ele foi criado para refletir a glória do seu Criador, mas não atingiu este alvo e está “destituído da glória de Deus”. É como um relógio que não dá as horas; como um carro que não sai do lugar; como carvão que não queima. É um fracasso no maior de todos os empreendimentos – deixou de glorificar a Deus.
O HOMEM ESTÁ LONGE DO ALVO
Há outra palavra usada para descrever pecado e que significa “afastar-se do caminho reto”. Esta concepção de pecado é expressa no Salmo 78:57, onde Deus reclama que Israel se virou “como um arco enganoso”. Mais uma vez em Isaías vemos que “todos estão desgarrados como ovelhas”, “cada um se desviou pelo seu caminho”. O homem está afastado do caminho reto. Em vez de gravitar em torno de Deus, fazendo de Sua vontade o prazer principal, ele se torna uma estrela errante no firmamento moral.
COMPETIÇÃO COM DEUS
Pode-se definir pecado como competir com Deus pela soberania – competir no plano de autoridade. Este aspecto é visto na história do primeiro pecado, como podemos ler em Gênesis 3. A palavra pecado não aparece na narrativa, mas o fato do pecado, sim. Também a natureza do pecado fica claramente revelada. Satanás disse a Eva que se ela e o marido comessem do fruto proibido, seus olhos se abriram e seriam como Deus, conhecendo o bem e o mal. E quando o pecado foi consumado, Deus disse: “Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal”. Gênesis 3:22.
Como foi que o homem se tornou igual a Deus quando pecou? É claro que não tem nada a ver com caráter, porque ao pecar, o homem perdeu o caráter bom com o qual fora criado. Também não significa que adquiriu atributos divinos tais como poder, santidade ou sabedoria. Ao pecar o homem perdeu o poder de viver e morreu; perdeu sua santidade original e se tornou imundo ou depravado; perdeu a sabedoria recebida na criação original e se tornou um tolo. O pecado trouxe morte, depravação e desilusão. O pecado é tolice consumada.
O único sentido possível no qual o homem se tornou igual a Deus foi no espírito e objeto – não na realidade. Adão e Eva declararam sua independência de Deus. Agora teriam suas próprias leis e fariam o que lhes agradasse. Rebelaram-se contra a vontade de Deus para sua vida. Rejeitaram Sua vontade expressa quanto ao que poderiam ter. Determinariam (sabendo por si mesmos) o que era bom e mal – certo e errado. Não mais estariam presos à Palavra de Deus, em relação ao que podiam fazer. Seriam a própria lei e fariam o que quisessem; o que era certo a seus próprios olhos. Deste modo, entraram numa competição com Deus em relação à soberania. Em espírito e objeto se fizeram como Deus. A vontade deles mesmos seria suprema.
Cada pecado é uma competição com Deus no plano de autoridade. Se eu tiver o direito de determinar o que é certo e errado, então sou Deus – sou supremo na questão de autoridade. O pecado é, portanto, uma declaração de independência diante de Deus e isto significa guerra, pois Deus disse: “Eu sou Deus, e não há outro”. Salmo 46:9. Em outro versículo lemos: “Não terás outro deuses diante de mim”. Êxodo 20:3. Portugal não pôde fazer quase nada quando o Brasil declarou sua independência – foi uma coisa perdida. Mas, Deus pode fazer muito em relação a Suas criaturas rebeldes. O pecador entrou numa guerra, já perdida, contra seu Criador. Deus é um Deus zeloso. Ele nunca vai tolerar rivais nem competidores. Ele é a única PESSOA no universo inteiro que tem o direito e o poder de fazer o que Lhe agrada. Somente Ele tem o direito de agir para Sua própria glória. Tudo o que Deus faz, quer em misericórdia ou justiça, é para o louvor de Sua glória. A salvação é unicamente para este fim. Efésios 1:1-14.
A REALIDADE DO PECADO
O pecado é real? Pergunte a Adão e ouça-o lamentar pela perda do Éden. O pecado é real? Pergunte a Caim e o ouça clamar: “É maior a minha maldade que a que possa ser perdoada”. Gênesis 4:13. Pergunte a Abel. Ele não pode falar, mas seu sangue clama a Deus por justiça contra seu assassino. O pecado é real? Pergunte a Davi e escute-o dizer: “Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim”. Salmo 51:3. O pecado é real? Pergunte ao homem rico, no inferno, e escute o que ele diz: “Estou atormentado nesta chama”. Lucas 16:24. O pecado é real? Pergunte a Faraó e preste atenção que disse: “Pequei”, ao descobrir que em cada casa havia um primogênito morto, por toda a terra do Egito. Somente Gósen escapou, por causa do sangue do cordeiro pascal. O pecado é real? Pergunte a Pedro e escute sua confissão: “Ausenta-te de mim, que sou um homem pecador”. Lucas 5:8. O pecado é real? Pergunte aos pais crentes e ouça-os enquanto oram pelos filhos perdidos. O pecado é real? Pergunte ao Filho de Deus e ouça-O clamar, sob fardo tão terrível; “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Mateus 27:46. O pecado é real? Pergunte aos mártires e deixem que lhe digam o preço que pagaram ao resistirem até à morte.
Quanto mais santo o homem é, mais ele vê o que é pecado. A pessoa que peca menos é aquela que mais se entristece por causa do seu pecado. A. J. Gordon, o grande pregador batista de Boston, era um homem temente a Deus. Mesmo assim, pouco antes de morrer, pediu para que o deixassem sozinho. As pessoas ouviram confessar seus pecados de modo tão exagerado, que parecia estar delirando. Lutero clamou: “Oh, meus pecados, meus pecados”. Jonathan Edwards, que foi o homem mais temente a Deus, em sua época, escrevia em seu diário com tanta aversão a si mesmo, que se podia até pensar que era o pior homem do mundo.
A POTENCIALIDADE DO PECADO
O pecado, como ato de transgressão é somente uma parte pequenina do pecado. Nove décimos da massa de um iceberg ficam por baixo da água, de modo que uma parte muito pequena do total pode ser vista. E há muito mais pecado no homem do que o que aparece na superfície da transgressão real. O mal em potencial é quase igual em cada homem. A Bíblia diz que não há diferença, pois todos pecaram. Se não pecamos tanto quanto os outros exteriormente, é porque a graça de Deus nos restringe e não a algo de bom em nossa natureza. Quando nosso Senhor disse que “do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mateus 15:19), Ele não descrevia um coração em particular, mas sim o coração de cada homem. Quando Paulo disse que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” (Romanos 8:7), ele falava sobre a mente de cada ser humano.
SALVAÇÃO ATRAVÉS DE UM COOPERADOR
O pecador está competindo contra Deus. O Salvador, porém, é o cooperador de Deus. O primeiro Adão competiu com Deus em busca de soberania e destruiu a todos nós. O último Adão, Jesus Cristo, cooperou com Deus para nossa salvação. O primeiro Adão disse: “Faça-se a minha vontade”. O último Adão declarou: “Todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42). O primeiro Adão desprezou a vontade de Deus. O último Adão disse: “deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus” (Salmo 40:8). E a vontade de Deus o levou pela estrada do sofrimento; do Getsêmani sombrio ao Calvário sangrento. E foi lá que Ele exclamou: “Está consumado” (João 19:30). Todos os homens são vítimas da tragédia terrível do Jardim do Éden; todos os crentes são vitoriosos através da tragédia do Calvário. Que o autor e leitor deste livro possam se curvar em adoração, diante tal maravilha!
Como encontrar uma boa Igreja?
Uma das perguntas que me fazem com mais frequência é: “Como encontrar uma boa igreja?” Essa questão adquiriu mais significado nos últimos anos, por causa do impacto maciço do televangelismo em nossa cultura. Em muitos casos, o louvor foi substituído pelo entretenimento, e a comunhão transformou-se em individualismo. Tendo em vista esses desenvolvimentos culturais, é fundamental que os cristãos conheçam os ingredientes de uma igreja saudável e bem equilibrada.
O primeiro sinal de uma igreja saudável e equilibrada é um pastor comprometido em liderar a comunidade de fé no culto a Deus por meio da oração, do louvor e da pregação. A oração está entrelaçada no “tecido” do culto de tal forma, que seria inimaginável ter uma reunião da igreja sem ela. Desde o início da Igreja Primitiva, a oração é a principal forma de adorar a Deus. Por meio da oração, temos o privilégio de expressar adoração e gratidão ao Único que nos salvou, santificou e que um dia nos glorificará. Na verdade, nosso Senhor mesmo estabeleceu o padrão ao ensinar a seus discípulos o Pai Nosso (Mateus 6.9-13).
O louvor é outro ingrediente-chave do culto. As Escrituras nos incentivam a falarmos entre nós “com salmos, e hinos, e cânticos espirituais” (Efésios 5.19). Cantar salmos é uma forma magnífica de interceder, instruir e de internalizar as Escrituras. Além disso, os grandes hinos de fé resistem ao tempo e são ricos em tradição teológica e verdade. Cânticos espirituais, por sua vez, transmitem o vigor da nossa fé. Portanto, é fundamental preservarmos tanto o respeito por nossa herança espiritual quanto uma consideração pelas composições contemporâneas.
Juntamente com a oração e o louvor, a pregação é necessária para experimentarmos um culto vibrante. Como Paulo incentivou seu protegido Timóteo: “pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores segundo as suas próprias concupiscências” (2Timóteo 4.2-3). Mais uma vez, os líderes da igreja devem gerar em seus membros uma fome pela Palavra de Deus. Pois é pela pregação da Palavra que os crentes são edificados, exortados, encorajados e preparados.
Além disso, uma igreja saudável e bem equilibrada caracteriza-se por sua unidade. Cristo rompe as barreiras de gênero, raça e experiência, e nos torna um só sob a bandeira de seu amor. Essa unidade se manifesta de modo tangível pela comunhão, pela profissão de fé e pela contribuição.
A comunhão é visível no batismo, que simboliza nossa entrada em um corpo de crentes que são um em Cristo. É um sinal e um selo de que fomos sepultados para a nossa velha vida e ressurgimos em novidade de vida, por meio de seu poder de ressurreição. De modo semelhante, a Santa Ceia é uma expressão de unidade. Quando compartilhamos os mesmos elementos, compartilhamos aquilo que simboliza — Cristo, por quem somos um. Nossa comunhão na Terra, celebrada na Ceia, é uma antecipação da comunhão celestial que teremos quando o símbolo der lugar ao significado.
Uma outra expressão de nossa unidade em Cristo é nossa profissão de fé em comum — um conjunto de crenças essenciais, ao qual se refere corretamente como “cristianismo essencial”. Essas crenças, que têm sido sistematizadas nos credos da igreja cristã, formam a base de nossa unidade como corpo de Cristo. O conhecido pensamento continua ecoando: “No essencial, unidade; no que não é essencial, liberdade; e em todas as coisas, caridade”.
Com a comunhão e a profissão de fé, experimentamos a unidade por meio da contribuição de nosso tempo, talento e tesouros. A questão que deveríamos fazer não é “O que a igreja pode fazer por mim?”, mas “O que posso fazer pela igreja?” A tragédia do Cristianismo moderno é que quando os membros do corpo se machucam, com frequência nós os afastamos para buscarem ajuda fora das paredes da igreja. E exatamente por isso que o apóstolo Paulo nos exorta: “comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade” (Romanos 12.13).
Finalmente, uma igreja saudável e bem equilibrada é comprometida em preparar os crentes para serem testemunhas efetivas daquilo em que creem, por que creem e em quem eles creem. Na Grande Comissão, Cristo não chamou os crentes para simplesmente converterem outras pessoas, mas para fazerem discípulos (Mateus 28.19). Um discípulo é um aprendiz ou seguidor do Senhor Jesus Cristo. Portanto, devemos estar preparados para transmitir aquilo em que cremos. Em outras palavras, devemos estar preparados para transmitirmos o evangelho. Se os cristãos não sabem como partilhar sua fé, nunca passaram pelo treinamento básico. O evangelho de Cristo deve se tornar parte de nosso vocabulário de modo que apresentá-lo se torne natural.
Também devemos estar preparados para partilhar porque cremos naquilo em que cremos. Como Pedro declarou, devemos “[estar] sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que [nos] pedir a razão da esperança que há em [nós]” (1Pedro 3.15).
Muitos hoje acreditam que a tarefa da apologética é domínio exclusivo de estudiosos e teólogos. Nem tanto! A defesa da fé não é opcional; é treinamento básico para todo cristão.
Além de estarmos preparados para transmitir o “o que” e o “porque” de nossa fé, devemos estar capacitados para transmitir o Quem de nossa fé. Praticamente toda heresia teológica começa com uma concepção errônea da natureza de Deus. Portanto, em uma igreja saudável e bem equilibrada, os crentes são preparados para transmitir doutrinas gloriosas da fé como a Trindade e a deidade de Jesus Cristo. É fundamental que nós, como a Igreja Primitiva, entendamos mais plenamente o conceito bíblico de sacerdócio de todos os crentes. É evidente que não se trata do chamado do pastor para fazer a obra do ministério sozinho. Ao contrário, o pastor é chamado para “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do Corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Efésios 4.12-13).
Resumindo, sabemos que encontramos uma boa igreja se Deus é adorado em espírito e em verdade por meio da oração, do louvor e da pregação da Palavra; se a unidade que partilhamos em Cristo se manifesta de modo tangível na comunhão, na profissão de fé e na contribuição; e se a igreja prepara seus membros como testemunhas que transmitem o que creem, porque creem e em Quem creem!
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (Atos 2.42).
- HANK HANEGRAAFF
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